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Aprenda como lidar com a educação bilíngue de seus filhos.

Multilingual Creativity: engaging positively with plurilingualism

unnamedAna Souza  conheceu Sam Holmes quando ele era aluno de mestrado na Goldsmiths, Universidade de Londres.  Sam é fluente em português e tem desenvolvido trabalhos interessantíssimos na área de multilinguismo, inclusive com crianças e adolescentes falantes de português que crescem na Inglaterra. Assim, o Blog Abrir tem a honra de divulgar o mais recente projeto do Sam, que atualmente é aluno de doutorado no King’s College London: o Multilingual Creativity. Leia abaixo (em inglês) o artigo do Sam.

 

What happens when people use more than one language at once in a creative project?

by Sam Holmes

There are now over 1 million pupils in UK schools who speak English as an additional language (EAL). In intensely diverse contexts such as London this has thrown up new hybrid ways of using language.Rather than languages living neatly side by side, they mix and mingle, with individuals drawing on two or more languages at once as they communicate and express themselves. This phenomenon is referred to as “plurilingualism” in the Common European Framework of Reference for Languages (Council of Europe, 2001).

The educational and creative potential of plurilingualism goes largely untapped within mainstream schools and cultural initiatives which tend to channel young people into using one language at a time. The goal may be multilingualism, but this is pursued through monolingual learning experiences.

Multilingual Creativity is about engaging positively with the reality of plurilingualism and is an umbrella term for the current range of projects and research across schools, arts/cultural organisations and universities, which grapple with celebrating, drawing a dividend from and further developing such linguistic skills.

The Multilingual Creativity initiative is a collaboration between a number of partner organisations. It draws on projects undertaken as part of the Gulbenkian Foundation’s Literature in Translation and Multilingualism‘ programme, as well as research carried out by the Centre for Language, Discourse and Communication at King’s College London. So far, this collaboration has resulted in the following achievements:

1. Report

This report presents findings from a review of current practice, identifying five key principles associated with successful projects in Multilingual Creativity. It can be downloaded here

2. Website

This website collates projects, resources, research, events and opportunities from across the emerging sector of Multilingual Creativity. It provides a hub where this information can be shared, promoting new developments and collaborations: http://www.multilingualcreativity.org.uk/

3. Event Series

Building on the research presented in the Multilingual Creativity Report, the Cultural Institute at King’s and Free Word Centre are hosting a series of events over the 2015-16 academic year which bring together schools, libraries, community organisations, academics and researchers, arts and cultural organisations, arts practitioners, funding bodies, the media and publishers. These events focus on forging key links, sharing knowledge and showcasing best practice in projects and training.

You can browse the events and book your free place here: https://www.freewordcentre.com/blog/2015/11/multilingual-creativity-series/

“Uma língua como herança” – documentário educativo sobre o ensino de POLH na Inglaterra

Por Coraci Ruiz e Julio Matos Uma lingua como heranca- documentario

Somos Coraci Ruiz e Julio Matos, documentaristas brasileiros. Em 2003 fundamos uma produtora de audiovisual na cidade de Campinas, São Paulo, chamada Laboratório Cisco, e desde então nos dedicamos a realizar filmes, vídeos e programas de TV sobre os mais diversos temas. O documentário Uma língua como herança é um desses projetos que realizamos em 2015.

Uma aventura em família

Nós temos dois filhos, a Violeta de 14 anos e o Martí de 9. Em 2013 partimos para morar um ano em Londres, acompanhando o Julio que foi fazer mestrado na Goldsmiths, Universidade de Londres. Fomos incrivelmente bem acolhidos nas escolas onde nossos filhos estudaram. Logo nos primeiros meses, a professora nos pediu para fazer uma apresentação sobre a nossa vida no Brasil para os colegas do Martí. Assim, elaboramos um slide show com fotografias da nossa casa, da escola brasileira, de viagens para a praia. Uma semana depois as fotos estavam impressas num mural na recepção. Junto com elas havia uma informação que nós nunca mais esquecemos: ali, naquela pequena escola no sul de Londres, havia nada menos do que 25 línguas faladas pelas crianças!

O universo do bilinguismo

Descobrimos que haviam muito mais questões, estudos e métodos relativos ao bilinguismo do que poderíamos imaginar! Também percebemos que havia pouquíssima divulgação sobre este tipo de trabalho. Assim, quando o Consulado-Geral do Brasil em Londres abriu o edital para propostas culturais relativas ao Ensino de POLH, logo pensamos que um documentário educativo seria uma ótima proposta. Ele poderia beneficiar o trabalho de muita gente ao mesmo tempo.

A produção e seu princípio

Sabemos que o audiovisual é uma ferramenta importante para espalhar idéias, ainda mais se for pensado num formato que una tanto as informações importantes sobre o tema quanto o lado afetivo que o envolve. E foi segundo este princípio que elaboramos o projeto de “Uma língua como herança”. A produção foi bastante prazerosa. Contamos com a colaboração fundamental da Laura Belinky na filmagem das aulas e das entrevistas com pais, alunos, professoras e diretoras no ambiente escolar.

As entrevistas

Depois realizamos uma rodada de entrevistas com diretores, professores e especialistas no assunto. Chegamos à Dra Ana Souza e às escolas Brasil em Arte, EBEL e Clube dos Brasileirinhos através da Abrir.

A edição

A edição é sempre um momento difícil, pois temos que fazer muitas escolhas e reduzir mais de 15 horas de material filmado em apenas 15 minutos de vídeo pronto. Ao mesmo tempo é uma delícia ver o vídeo tomando forma, as imagens e falas se juntando, a música dando o ritmo, o surgimento da narração em off…

Nossa experiência

Para nós foi uma ótima experiência, e esperamos que o vídeo seja de grande utilidade para todos aqueles que se dedicam ao ensino de POLH.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer imensamente a todos os que colaboraram conosco e parabenizar essa comunidade de brasileiros que desenvolve trabalhos tão importantes e sérios com persistência e garra admiráveis!

Lidando com Alguns Mitos sobre o Bilinguismo

por Aline Reading

Tive a oportunidade de participar de uma oficina ministrada pela Dra. Ana Souza, presidente da ABRIR, na escola de português que a minha filha frequenta em Hertfordshire, a Escolinha do Brasil e Centro Cultural (EBeCC), no dia 8 de junho de 2015. Assim, compartilho com vocês essa experiência, que foi muito positiva! Oficina

Minhas expectativas

Meu marido é inglês e temos uma filha de 5 anos. Apesar de ter falado sempre português com ela, e até ter lido livros em português para ela desde que ela era bebê, a minha filha prefere o inglês e desde seus 3 aninhos de idade praticamente recusou-se a falar comigo no meu idioma de origem. Então, fui à oficina Mitos sobre o Bilinguismo confiante de que eu teria todas as ferramentas que iriam finalmente fazer com que minha filha aprendesse o português de uma vez por todas, como num passe de mágica.

Respostas nem certas nem erradas

Ao chegarmos, a Ana pediu para que nos apresentássemos e que nos reuníssemos em grupos. Foi nos dada uma lista de tópicos que discutimos, e nos foi salientado que não havia respostas certas ou erradas. Fomos conversando e dividindo experiências: aprender duas línguas ao mesmo tempo confunde as crianças? Falar duas línguas faz com que crianças desenvolvam maior habilidade de raciocínio? E misturar os dois idiomas, pode? Quem nunca ouviu que a única maneira de uma criança aprender um idioma é se a mãe ou o pai usarem estritamente aquele idioma quando conversar com o filho? Esse tópico causou muita discussão, e uma das mães comentou que ficava até brava se as filhas falassem em inglês entre elas na casa onde os pais eram brasileiros! Me vi nela também, pois inúmeras vezes eu disse a minha filha, “De hoje em diante só falo em português com você. Esqueci meu inglês!” Ela não entendia, ficava aflita, por que eu não ia mais falar com ela na língua que ela preferia e se sentia confortável? Eu mesma pensava, o que estou fazendo? Será que tem que ser assim tão rígido mesmo? A Ana então colocou de uma maneira muito simples e clara: “Meninas, relaxem! Não somos todas bilingues? Não existem expressões que preferimos usar em inglês ao invés do português?” Era como se uma grande ficha tivesse caido: eu também sou bilingue. Eu gosto de falar inglês, por que vou retirar isso completamente da comunicação com minha filha, tornando o ensino do meu idioma uma coisa árdua, chata, que nenhuma das duas quer fazer? Era minha responsabilidade mostrar para a minha filha que falar português é legal, e tornar uma coisa atraente pra ela.

O impacto da oficina na minha comunicação com minha filha

Na semana que se passou, eu falava em inglês quando tinha vontade com a minha filha, mas sempre voltando ao português. Falava os dois. Estava eu um dia falando com minha filha, em português, e ela estava respondendo em inglês, que por sinal havia sido a nossa forma de comunicação de praxe por um bom tempo. Até que uma coisa mágica aconteceu: a minha filha começou a falar em português comigo. Na minha cabeça estouravam  fogos de artifício, que ela não percebeu, pois fiz questão de ficar com uma cara de paisagem para não estragar o momento. Às vezes ela olhava pra mim e falava metade em português e metade em inglês, me dando a dica da palavra que ela não sabia. Eu via que ela estava fazendo um esforço tremendo para falar em português, e percebi o quanto deve ter sido frustrante e difícil para ela quando eu dizia que ela tinha que falar só em português comigo! Depois de um tempo, abracei-a e disse que havia notado que ela estava falando português, e ela me respondeu: “I am learning”.

Meu aprendizado

O que eu aprendi, é que as criancas bilingues não tem um molde. Para certas crianças, falar português não é uma coisa que vai acontecer assim, de repente, como mágica.  É um aprendizado orgânico, não podem haver pressões. Não existe uma maneira certa ou errada de ensinar, existe a maneira que funciona pra você. Ninguém gosta de rigidez. Algumas crianças aprendem rápido, outras demoram mais um pouquinho. Tem que se ter paciência, e quem sabe com o tempo, a minha filha vai me agradecer por eu ter persistido e ensinado para ela esse lindo idioma que é o nosso português.

Oficinas na sua área

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Língua Portuguesa: herança ou legado?

Malu e filhos.

Malu e filhos.

Por Malu Mancinelli

A palavra herança

Estava eu sentada num curso sobre POLH (Português como Língua de Herança), quando começa a discussão sobre a palavra “herança”. Seria a língua portuguesa um fardo a ser carregado por esses descendentes que nasceram ou moram fora do Brasil? A palavra herança pode ter um sentido negativo se pensarmos que não houve escolha, seria algo imposto e obrigatório, como a herança genética que tantas vezes predispõe a pessoa a uma doença. Mas e se pensássemos nas histórias (fictícias, nunca conheci uma real!) de pessoas que de repente recebem uma fortuna de um parente distante que sequer conheciam? Neste caso, a herança vem como um presente, um tesouro.

Minha avó sempre dizia que dinheiro a gente ganha e a gente perde, mas a cultura, o conhecimento, esses ficam para sempre com você. Temos então o melhor de dois mundos, pois a nossa língua portuguesa pode ser uma “herança-tesouro” que teremos para sempre.

A importância da postura dos pais

O peso da herança pode ser amenizado, e isso depende muito da postura dos pais. Se o segundo idioma for imposto de maneira arbitrária, a criança pode se fechar e se recusar a falar. Mas se os pais (digo os pais, mas pode ser apenas a mãe, ou apenas o pai, claro) o fizerem de forma natural, falando sempre com os filhos em seu idioma materno, mesmo que a criança responda no idioma predominante (do país onde vive), o conhecimento vai se formando, vai se sedimentando e construindo um repertório linguístico rico. Os pais podem até ficar inseguros achando que a criança não aprende ou que se recusa a aprender, mas assim que houver real necessidade, esse conhecimento virá a tona.

Os benefícios que um “falante passivo” possui

Esse “falante passivo”, que entende tudo o que ouve mas não fala o idioma, se um dia quiser frequentar um curso de POLH, terá muito mais facilidade no momento de aprender o idioma materno dos pais. Ele terá essa memória linguística: todo o vocabulário, modelos de frase, organização da linguagem, linha melódica, um saber construído ao longo de anos ouvindo o idioma dos pais.

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